Projeto financiado com recurso da FAP-DF

Manoel de Barros (1916-2014)


Biografia

Manoel Wenceslau Leite de Barros, nascido em 19 de dezembro de 1916, em Cuiabá, Mato Grosso, é amplamente reconhecido como um dos mais proeminentes poetas da literatura contemporânea brasileira. Durante sua infância e adolescência, alternou entre a convivência familiar e o ambiente de um internato, onde permaneceu até os 17 anos. Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o ensino secundário e ingressou na Faculdade de Direito, formando-se em 1941. Paralelamente à formação jurídica, publicou seu primeiro livro de poesia, Poemas concebidos sem pecado (1937), em edição artesanal.

Embora tenha exercido a profissão de advogado no Sindicato dos Pescadores, no Rio de Janeiro, seu interesse por outros campos o levou a explorar o cinema e a pintura no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, a partir de 1943. Nesse período, Manoel entrou em contato com a obra de escritores de destaque, como García Lorca, T. S. Eliot, Ezra Pound e Stephen Spender. Sua estadia no exterior incluiu viagens à Bolívia, Peru, França, Itália e Portugal, ampliando seu repertório cultural e artístico.

Ao retornar ao Brasil, em 1947, casou-se com Stella dos Santos Cruz, com quem teve três filhos. Na década de 1950, com o falecimento de seu pai, mudou-se para a região do Pantanal, em Mato Grosso, onde assumiu a administração da fazenda herdada pela família. Esse período no Pantanal foi marcado pela imersão na natureza, que se tornou uma rica fonte de inspiração para sua produção literária.

A consagração de Manoel de Barros ocorreu tardiamente. Embora sua primeira obra tenha sido publicada na década de 1930, foi somente nos anos 1980, com o lançamento de Arranjos para Assobio (1980), que sua poesia despertou o interesse da crítica e do público. Figuras como Antonio Houaiss, Millôr Fernandes e Ênio Silveira reconheceram sua genialidade, consolidando seu lugar no panteão literário nacional. Sua obra foi laureada com diversos prêmios, incluindo o Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do Brasil.

Caracterizado por uma linguagem singular, Manoel explorou os limites da gramática convencional, criando neologismos e imagens poéticas que evocavam um universo visual intenso. Essa influência está profundamente associada à leitura de Pe. Antônio Vieira, de quem assimilou a ideia de “imagens pintadas com palavras”. Sua poesia refletia a relação simbólica entre homem, natureza e linguagem, destacando-se pela simplicidade e pela profundidade de sua perspectiva sobre o mundo.

Ao longo de sua carreira, Manoel publicou mais de 15 obras, incluindo títulos marcantes como O guardador de águas (1989), O livro das ignorãnças (1993) e Livro sobre nada (1996). Ele também produziu literatura voltada ao público infantil, como Exercício de ser criança (1999) e Poeminha em língua de brincar (2007). Sua obra reflete a busca por um mundo mais puro, traduzindo, em suas palavras, “a inocência infantil nas palavras” como antídoto para a aridez do mundo tecnocrático.

Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de 2014, aos 97 anos, deixando um legado que transcende gêneros e fronteiras. Sua poesia, repleta de encanto e originalidade, continua a inspirar leitores e estudiosos, reafirmando-o como uma das vozes mais autênticas e inovadoras da literatura brasileira.

Curiosidades

Defendia que “a palavra do poeta é sempre inocente e pobre”, enfatizando a pureza e a sensibilidade em sua visão de mundo.

É conhecido por inventar palavras e usar uma linguagem que desafiava as normas gramaticais convencionais.

Apesar de escrever desde jovem, só recebeu amplo reconhecimento público e da crítica aos 64 anos.

Além de sua poesia para adultos, também escreveu obras voltadas às crianças, marcadas pela simplicidade e leveza.

Pesquisadores

Guilherme Mazui

Jornalista, escritor e pesquisador. Mestrando em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), com pesquisa sobre Manoel de Barros na imprensa brasileira. Especialista em História, Sociedade e Cidadania (UniCEUB) e Estratégias de Comunicação Aplicada (FGV). Graduado em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (2009). Repórter do portal G1 em Brasília desde 2012, com experiência em coberturas políticas e judiciais. Integrante do grupo de pesquisa Biocom – Comunicação e Estudos Biográficos (CNPq).

@gmail.com

Gustavo de Castro

Poeta, escritor e jornalista. Pós-doutorado (2015) em Estudos Ibéricos e Latino-americanos pela Université Sorbonne – Paris IV; Pós-doutorado (2011) em Teoria Literária pela Universidade de Brasília (UnB); Doutorado (2002) em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pesquisador no Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo (IEB-USP).

gustavocastroesilva@gmail.com

Cristina G. Maciel

Pós-graduada em Comunicação Pública pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Pós-graduada em Teorias Psicanalíticas pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB),  com habilitação em Sociologia.

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