João Guimarães Rosa (1908-1967) é um dos maiores expoentes da literatura brasileira, com sua obra marcada pela inovação linguística e uma profunda imersão nas especificidades da cultura mineira. Sua trajetória literária foi fundamental para a transição do Modernismo para um novo estilo narrativo, mais atento às complexidades linguísticas e culturais do Brasil. Seu romance *Grande Sertão: Veredas* (1956) é considerado sua obra-prima e um marco na literatura mundial.

Nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, Guimarães Rosa teve uma formação acadêmica sólida e multifacetada. Desde a infância, demonstrou interesse por línguas, dominando mais de nove idiomas, o que, mais tarde, foi crucial para sua carreira diplomática. Graduou-se em Medicina pela Universidade de Minas Gerais em 1930 e trabalhou como médico em diversas localidades, inclusive durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Seu amor pela literatura se manifestou precocemente, e em 1936, iniciou a escrita de seus primeiros contos, que foram publicados na revista *O Cruzeiro*.

Em 1934, Guimarães Rosa ingressou no Itamaraty, onde se destacou como diplomata, com passagens por países como Alemanha e Colômbia. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso em Baden-Baden, na Alemanha, após o rompimento diplomático entre Brasil e Alemanha. Após a guerra, passou a residir em Paris, onde se dedicou mais intensamente à literatura, produzindo obras como *Sagarana* (1946), uma coleção de contos inspirados no sertão mineiro, que lhe garantiu o reconhecimento tanto no Brasil quanto no exterior.

Em 1952, realizou uma jornada pelo sertão de Minas Gerais, acompanhado de vaqueiros, que forneceu material rico para suas obras posteriores, como *Corpo de Baile* (1956) e *Grandes Sertões: Veredas* (1956). Nesta última, a narrativa de Riobaldo, um jagunço do sertão, é um dos maiores exemplos de sua inovação estilística, onde se mistura a linguagem regional com a criação de neologismos, metáforas poéticas e uma profunda reflexão filosófica sobre o destino, o bem e o mal.

Além de escritor, Guimarães Rosa foi um estudioso da cultura popular brasileira, utilizando a linguagem como um meio de resgatar e reintegrar tradições linguísticas e culturais. Sua obra é conhecida pela fusão de elementos da oralidade regional com a alta literatura, criando uma narrativa que transcende o regionalismo, ao mesmo tempo em que o exalta. O autor também cultivou um estilo de escrita que ultrapassava as fronteiras entre a prosa e a poesia, recorrendo a um ritmo, a imagens vívidas e a uma sintaxe inovadora.

Na vida pessoal, Guimarães Rosa teve dois casamentos. O primeiro, com Lígia Cabral Penna, de quem teve duas filhas, e o segundo com Aracy Moebius de Carvalho, com quem teve uma relação marcada por uma atuação heroica de Aracy, que ajudou a salvar milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A relação com Aracy também foi parte de sua formação enquanto escritor, influenciando suas percepções sobre humanidade e ética.

Guimarães Rosa foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963, tomando posse em 1967, pouco antes de falecer, em 19 de novembro, vítima de um infarto. Sua morte, três dias após a posse, selou o fim de uma carreira brilhante que deixou um legado literário imensurável. Seus escritos, em particular *Grande Sertão: Veredas*, continuam a ser estudados e admirados por sua profundidade, inovação e contribuição para a literatura universal.